Adolescentes em êxtase na luta contra a angústia

Definir adolescência como a transição entre a infância e a vida adulta seria simplificar essa fase do desenvolvimento tão complexa. Enquanto os pais se perguntam o aconteceu com aquela criança que era tão conhecida, os próprios jovens se sentem estranhos e começam uma busca pela identidade. O adolescente passa por uma brusca metamorfose corporal, o crescimento acontece mais rápido que em qualquer outra fase, exceto no útero.

Aquele que desde a infância já era um investigador da sexualidade, hoje se depara com
a realidade factível do encontro sexual. Este é mais um dos impasses que se impõem no árduo percurso do desenvolvimento. Sobre a relação sexual não se tem um saber prévio, cada um irá estabelecer o seu jeito particular a cada encontro.

Todo esse processo poderá gerar angústia tanto para o sujeito que o vivencia quanto
para seu entorno familiar. A angústia, ao mesmo tempo que é desagradável, é um
motor importante para promover mudanças. Esse percurso implica perdas para que,
em seu lugar, advenha algo novo.

Frente a esse quadro, a lei de mercado atual encontrou um setor fértil para o consumo. São oferecidos objetos que prometem tamponar a angústia e evitar o encontro com
essa falta estrutural, com esse lugar do não saber onde só resta inventar. Hoje é
vendida a promessa da felicidade instantânea e antes que se perceba tal engodo, um novo produto é lançado no mercado para substituir o anterior, numa série sem fim. Qualquer bem de consumo pode entrar nessa série: roupas, comidas, produtos eletrônicos e até mesmo as drogas.

As drogas ocupam um lugar do “fruto proibido” no imaginário dos adolescentes instigando curiosidade. Seu uso pode servir como identidade para um grupo de pares uma vez que apresenta regras e vocabulários próprios além de excluir a participação dos adultos.
Cada droga promete alcançar uma sensação determinada, mas é o Ecstasy que vem
se destacando entre os jovens.

De acordo com a ONU, o Ecstasy tem potencial para ser a pior droga do século XXI. Trata-se de um derivado anfetamínico sintético de efeitos mistos, estimulantes e perturbadores. É consumido de forma abusiva principalmente por jovens nas festas eletrônicas do mundo todo. Apesar de não haver ainda estudos precisos no Brasil, foi revelado através da Secretaria Nacional Antidrogas que o consumo do Ecstasy ocorre cada vez mais cedo. Já se tem o testemunho de consumidores de 13 anos de idade. Também conhecida como “A Droga do Amor”, ela intensifica artificialmente as sensações de euforia e excitação, sem medidas, que podem encontrar como limite a morte.
Através desta via expressa, muitos tentam aplacar suas angústias momentaneamente.

Os adultos, que poderiam servir como pontos de basta, muitas vezes se submetem ao mesmo imperativo da lei de mercado. Acabam se conformando com respostas prontas e embaladas, ao invés de propiciarem um espaço de questionamento e de criação: espaço no qual cada um poderá construir suas próprias respostas, mesmo que isso tenha o custo de uma dose de angústia.

Diante de tantos excessos, encontrar um lugar de pausas e intervalos, onde a escuta é oferecida como método de tratamento, parece um tanto subversivo. Esse é o convite que os analistas fazem em seus consultórios, onde um novo tempo é instaurado, o do próprio sujeito.

Cada um poderá inventar a sua forma inédita e singular de estar no mundo. Cada um buscará sua forma de estabelecer laços sociais. Por fim, cada um descobrirá seu jeito de lidar com a dor, com as perdas que fazem parte do viver e, conseqüentemente, do crescer.