É logo no primeiro ano que alguns pais começam a reparar algo diferente no olhar de seus filhos, um olhar indiferente, vazio. Comparam com os demais bebês da mesma idade e notam uma peculiaridade. Em seguida percebem certa dificuldade na comunicação, principalmente em relação à fala. É aí que, geralmente, se inicia uma incansável busca para saber o que está acontecendo. Muitos encontram no diagnóstico um apaziguamento, por mais paradoxal que isso seja. De médico em médico, de testes em testes se deparam com as mais diversas respostas até encontrarem alguma que lhes sirva. Uns dizem que seu filho não atingiu a média esperada para a idade, outros atestam a normalidade, dizem que cada um se desenvolve no seu tempo. Os pais começam a escutar diversas siglas que a princípio não lhes dizem nada até encontrá-las no Google: TGD, TDAH, DEA, etc. Em quem acreditar?
A palavra autismo já ronda os seus pensamentos, mas é muito cedo para se fazer este diagnóstico. Ao mesmo tempo dizem que quanto antes se diagnosticar melhor será o prognóstico, uma vez que o tratamento deve-se iniciar precocemente. Nos tempos atuais o termo autismo se tornou muito popularizado. Além de ser uma palavra que faz parte de um vocabulário corriqueiro, dentre os manuais da psiquiatria este diagnóstico abrange muitas características, englobando cada vez mais crianças, mesmo que umas sejam totalmente diferentes das outras. A isso se nomeia Espectro Autista, que são como vários graus da mesma patologia. A desordem ou perturbação de espectro autista (DEA) inclui outros diagnósticos e fenômenos para além do autismo clássico. O que os une é essencialmente a dificuldade na comunicação e em estabelecer o vínculo social. Por isso é tão difícil estabelecer um diagnóstico precoce, deve-se respeitar minimamente o tempo que cada criança leva para se incluir no social, na relação com o outro.
Para além do diagnóstico a criança precisa de um tratamento adequado e qualificado, orientado pelo que ela própria apresenta. Neste caso não há remédio que cure, a melhora se dá pela abordagem de diferentes disciplinas, e o caminho a percorrer se dará a partir da cada criança. O cuidado em dar um diagnóstico muito cedo tem a ver com poder permitir e repeitar um mínimo de tempo de vida necessário para que uma criança demonstre qual será seu estilo de estabelecer laços, de se vincular com o entorno. Além disso, há de se atentar para a possibilidade do diagnóstico acabar rotulando e fixando a criança numa mesma posição. A aposta que fazemos é no sentindo contrário à fixidez em um único nome, que pretenda dizer tudo sobre alguém. Por mais angustiantes e repetitivos que sejam os sintomas apresentados , é preciso percebê-los como parte da singularidade do sujeito. É nisso em que devemos nos pautar, que irá direcionar o nosso trabalho. E este trabalho que convoca e implica a participação dos pais (ou quem represente estas funções), que são os primeiros referenciais do mundo externo ao filho.